segunda-feira, 31 de maio de 2010

Em vão



O dia seguinte não foi, de facto, nada fácil embora o dia tenha começado bem.
Antes de reiniciarem a viagem, a Criança e os seus amigos tomaram o pequeno-almoço com o casal do farol no Cabo da Sereia, na bela casa que possuíam. Foi mais um momento agradável. Assim que terminaram, retomaram a viagem.
Depois de percorridos alguns quilómetros, todos pararam para beber água e descansar. Sem ninguém dar por isso, um dos elementos do grupo afastou-se um pouco. Foi dar a um belo jardim de rosas. O perfume era suave e inebriante e encantatório. O jovem duende sentiu-se atraído por um dos canteiros que exalava um perfume mais intenso. Sem saber bem como, viu-se cercado por cobras que o picaram e o fizeram desaparecer num ápice.
Os companheiros de viagem deram pela sua falta e foram à sua procura. Nada viram. Nem mesmo o jardim de rosas, que tinha desaparecido por completo. A Criança ordenou que se prolongassem as buscas e ficassem ali naquela noite. A fada que os acompanhava, disse que isso não seria possível pois estavam num local mágico que se transformava a cada momento e que raptava quem por ali se aventurasse. Todos ficaram algo desorientados por nada poderem fazer pelo amigo. Mas se era assim, o melhor era continuarem a viagem.
Andaram por vales e montanhas. Suportaram temperaturas altas que lhes secaram os lábios. Sobreviveram a trovoadas, chuvas torrenciais e ventos fortes. Por vezes, até Minedu era obrigado a caminhar. A viagem estava a ser um autêntico pesadelo. Até que o céu ficou limpo e o sol brilhou.
Os outros grupos também tiveram de se adaptar às intempéries e à irregularidade do terreno. Os sete grupos faziam as paragens necessárias para recarregarem baterias: comiam, bebiam e dormiam ao relento, em grutas, em cabanas improvisadas.
Passaram-se semanas, meses e as buscas revelaram-se infrutíferas. Nem uma pista sobre o paradeiro da princesa Ju. Os grupos foram chegando exaustos à Clareira das Decisões.
Algures num lugar lúgubre e triste uma princesa maldizia a sua sorte.
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Foto de F Nando

segunda-feira, 24 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Início das buscas



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Entretanto os sete grupos deixaram a clareira em direcção aos sete cabos. A cada grupo coube a visita a um dos cabos. Enquanto caminharam dentro do perímetro que conheciam, avançavam com rapidez. Quando o primeiro grupo teve que subir montes íngremes, cheios de rochas e sem trilhos, a marcha abrandou. Ainda assim, continuaram a caminhar. O segundo grupo teve que ultrapassar outras dificuldades. Para além de ribeiras que transpunham a pé, foram ter a um dos muitos rios de Fantasia. Sem meios para irem para a outra margem, caminharam ao longo do curso do rio. O terceiro grupo avançou bastante e sem dificuldades. Aliás tiveram a ajuda preciosa da mulher-borboleta. Foi pura sorte. O quarto grupo perdeu-se para fugir às sucessivas aparições de um urso. O quinto e sexto grupos tiveram muitas dificuldades: cada grupo perdeu um elemento nos pântanos que desconheciam. O sétimo grupo, onde se inseria a Criança, também teve de ultrapassar algumas provas difíceis. Uma planície coberta de cinzas de um vulcão que entrara em erupção que os fez desviar do caminho, fazendo-os percorrer muitos mais quilómetros do que os que tinham pensado, sob uma nuvem cinzenta de nuvens que dificultava a respiração.
Só ao sétimo dia de viagem é que os grupos chegaram a cada um dos cabos. O primeiro grupo foi ter ao Cabo do Gigante onde, ao contrário do que o nome indicava, não havia lá nenhuma criatura gigantesca. Só o Cabo era realmente colossal, tanto que o mar ficava bem lá em baixo. Por outro lado, o farol estava completamente abandonado. Uma elfo, uma jovem e um duende entraram para ver melhor o interior do farol. O segundo grupo chegou ao Cabo das Mãos de Pedra. Aí havia a casa do faroleiro e o farol. O faroleiro recebeu-os bem, pois há muito ninguém o visitava ou ali passava. Ninguém falou no desaparecimento da princesa Ju, porque depressa constataram que o faroleiro nada sabia. Antes de partirem, o faroleiro deu-lhes a réplica de um barco, que costumava fazer manualmente para passar o tempo. Agradeceram o almoço, a prenda e puseram-se a caminho da Clareira das Decisões.
O terceiro grupo não teve melhor sorte no Cabo da Vela. O farol estava em ruínas e não viram ninguém. Um jovem apanhou do chão aquilo que parecia ser o coto de uma vela. Nada de interesse, segundo a maioria. O quarto grupo foi até ao Cabo da Lua. E não é que o Cabo tinha a forma da lua em quarto cresccente? Lá no fundo o mar estava calmo, tranquilo, azul. Os temerários desceram e um deles trouxe uma pedra com inscrições que ninguém soube decifrar, nem mesmo a fada que os acompanhava. O Cabo da Bela Vista foi encontrado pelo quinto grupo. O nome do Cabo correspondia à beleza do lugar e da Vista. Dali viram o mais belo pôr-do-sol que alguma vez tinham tido a oportunidade de observar. E ali pernoitaram. O amanhecer foi outro milagre. O sétimo grupo foi parar ao Cabo da Serpente. Aí encontraram uma velha senhora, com o rosto tisnado pelo sol e cheio de rugas. Não os recebeu nem bem, nem mal, mas todos perceberam que ela não gostava de visitas pelas palavras evasivas que trocaram.
O sétimo grupo foi ter ao Cabo da Sereia. No átrio da casa do faroleiro havia um lago com a estátua de uma sereia. O grupo foi recebido por um jovem casal de elfos, extremamente simpáticos. Todos ficaram ali instalados e passaram uma noite bem agradável. Este casal de elfos tinha-se intalado naquele lugar por gostar de sentir o barulho do mar e simultaneamente avisar as embracações que se estavam a aproximar da costa. Gostavam de viver assim. A Criança elogiou-lhes o conforto da casa e o estado de preservação do farol.
Ali não houve questões incómodas; apenas um convívio saudável, descontraído e simpático. Mas o dia seguinte seria bem diferente.

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Nota: fotos de F Nando

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Na escuridão

Foto de F Nando
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Estava muito, muito escuro. Extremamente. O lugar era soturno, lúgubre e cheirava a água insalubre. Fazia um frio húmido azul esverdeado. A água escorria pelas rochas cheias de limos e fissuras cortantes. Ouvia-se o arfar rouco de uma qualquer criatura hedionda. Parecia estar ali. Sim, estava ali bem perto. A perspectiva da sua presença mortificava-a e assustava-a.
O medo parecia tomar forma nos sons, odores e formas que não se vendo, se podiam pressentir. Sentia medo de sufocar como uma indigente, numa local sem saída, sem luz. Depois havia aquela maldita humidade que lhe tolhia os movimentos e a obrigava a enrolar-se sobre si mesma. Que medo era aquele que a paralisava? Onde estava a sua coragem? Quando perdera os sentidos!? E por que os perdera?
Só um feitiço maldoso e poderoso poderia fazê-la prisioneira. Nunca fora de ter medo e receios infundados. Aprendera desde pequena, depois da morte dos pais, a sobreviver ao medo, ao escuro, ao desconhecido. Nunca nada a assustava. Excepto agora. Não sabia se estava acima da superfície ou sob ela, numa gruta qualquer ou numas masmorras.
Questionava-se também sobre a forma como fora ali parar. Aliás, perdera grande parte das memórias dos últimos tempos. Nem sabia quem era, como era. Tocou-se. Tocou o rosto, o cabelo, a roupa molhada e colada ao corpo, as mãos onde sentiu um anel. Era uma simples rapariga feita prisioneira ou que se perdera num dos seus possíveis passeios... Apeteceu-lhe gritar, chorar alto, porém ao ouvir o arfar rouco da criatura permaneceu bem calada.
Prestou maior atenção aos ruídos. O gotejar da água tornou-se mais audível, o cheiro de água podre era mais intenso, a respiração da criatura parecia cada vez mais perto. Precisava sair dali. Não havia nem uma luzinha. Nada de nada. Encostou-se às paredes da gruta. E esperou...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Revelações

Foto de F Nando
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A Criança e Minedu sobrevoaram os céus nocturnos de Fantasia durante algumas horas. Sobrevoaram povoações, montanhas escarpadas e a uma grande altitude. Sobrevoaram ainda a costa marítima, e todos os cabos. Nem uma única vez o amuleto brilhou ou deu uma nova indicação. Entre os voos a grande altitude e voos rasantes nada de diferente aconteceu. Desiludidos, Minedu foi pôr a Criança a casa. Despediu-se de Minedu com um grande abraço e entrou em casa pela janela do quarto, que deixara entreabaerta.


Foi directa à casa-de-banho, de seguida vestiu o pijama tentando não fazer muito barulho. Deitou-se de barriga para o ar, com as mãos debaixo da nuca. Reviu mentalmente tudo o que as fadas tinham dito e as buscas em vão que tinha iniciado. Mas as verdadeiras buscas começariam na manhã seguinte. Todos partiriam da Clareira das Decisões.


Por mais que tentasse, não conseguia dormir. Lembrou-se da primeira vez que viu a princesa Ju. Nunca vira uma jovem tão bonita, com uns olhos tão doces e serenos, com um sorriso tão meigo e que tratava todos da mesma forma. Gostava imenso de a ouvir falar, pois tinha sempre histórias interessantes para contar.


Estava envolta nestes pensamentos, quando bateram ao de leve na porta. Fingiu que dormia. Não se levantou nem respondeu ao chamamento. Voltaram a bater. Continuou a fingir que dormia. Então a porta abriu-se e a irmã da Criança entrou. Aproximou-se da cama e olhou para a Criança. A menina chamou-a. A Criança continuou a fingir. Mas de nada lhe valeu, pois a irmã acabou por acordá-la.


- Não deverias estar a dormir, minha menina? - perguntou a Criança.


- Sim, devia. Só que tive um sonho muito estranho que tenho que te contar.


- Não pode ficar para amanhã, maninha?


- Não. A não ser que queiras continuar à procura da princesa Ju às cegas?


A Criança olhou-a com surpresa, incompreensão e total perplexidade. Depois pediu à irmã que lhe contasse o sonho. Logo veria se era importante.


E a menina contou:


- Sei que às vezes sais à noite sem os pais saberem e que vais ter com amigos teus.


- Não me digas que já disseste ao pai e à mãe? Foram eles que te pediram para me vigiares?


- Claro que não, achas? Como te estava a dizer, esta noite tive um sonho estranho. Vi-te numa gruta, num lugar húmido e escuro. Estavas prisioneiro. E eu não sabia o que fazer para te salvar.


- E que mais? - perguntou a Criança curiosa, pois ali podia encontrar uma pista para chegar até à princesa Ju.


- Havia um monstro horroroso que se preparava para torturar a princesa Ju que não queria casar com ele. Ele insistia, ela chorava e quando ele ia para pegar nela ao colo, tu apareceste e o monstro deu-te um golpe brutal atirando-te contra as rochas. Foi nesta altura que acordei. Promete-me que não sais mais à noite. Nem que vias sozinho à procura da princesa.


- Que pesadelo, mana. Anda cá - e abraçou-a com carinho,- nada me vai acontecer.


- De certeza?


- Claro. Anda, vou levar-te para o teu quarto e só saio de lá quando estiveres a dormir.


- Upa! Que bom.


Ambas adormeceram. Mas aos primeiros raios de sol, a Criança e Minedu e todos os outros se encontravam na Clareira das Decisões. Depois do pequeno-almoço e das primeiras orientações, os sete grupos partiram em direcção aos Cabos, prestando sempre atenção aos perigos de uma viagem fora do perímetro conhecido de Fantasia.


segunda-feira, 3 de maio de 2010

Onde está a princesa Ju?


Foto de F Nando
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Antes que a Criança e Minedu deixassem o palácio da fada Violeta, a fada Sol aconselhou-os a procurarem o local onde o sol nasce. A Criança colocou mais questões, porém a fada Sol não soube (ou não quis) dar-lhes mais indicações sobre o caminho a seguir. De uma coisa tinha a certeza, a princesa Ju estava longe, muito longe. Talvez nem se encontrasse em Fantasia.
Foi com estas informações algo vagas que a Criança e Minedu se despediram das fadas. Desta vez, os riscos seriam maiores. Disso tinham a certeza. Quem quer que fosse o raptor da princesa, tinha-o feito com um objectivo muito específico. Mas qual? Porquê?
Antes de iniciarem as buscas, a Criança consultou todos os mapas de Fantasia. Ao longo da costa havia sete Cabos (o Cabo do Gigante, o Cabo das Mãos de Pedra, o Cabo da Vela, o Cabo da Bela Vista, o Cabo da Lua, O Cabo da Serpente e o Cabo da Sereia). Teriam de visitar cada um deles. Caso as buscas se revelassem infrutíferas, as fadas, os gnomos e os duendes, os come-fogo, os Pés Gigantes fariam turnos e ajudariam nas buscas. Teriam de encontrar onde o sol nasce, o que, na mente da Criança, era completa e cientificamente improvável.
A Criança reuniu com todos os voluntários e foram formados sete grupos. Cada um dos grupos inspeccionaria os diferentes Cabos de Fantasia. Já a Criança e Minedu sobrevoariam os céus de forma a acompanhar todos os grupos e trocar informações. Outras vezes caminhariam ao lado dos grupos. Só assim poderiam encontrar a princesa Ju.
A noite começava a cair quando todos decidiram descansar para iniciar as buscas aos primeiros raios de sol do dia seguinte. Todos se retiraram. A Criança e Minedu resolveram sobrevoar Fantasia, pois podia dar-se o caso de o amuleto voltar a brilhar permitindo-lhes seguir uma nova pista.