sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Uma ilha no Atlântico

Aquele era, de facto, um lugar difícil de se lá chegar. Tratava-se de uma ilha no meio do Atlântico, longe de Fantasia e sempre envolta em neblina. Permanecia invisível a maior parte do ano! Só no Verão, graças às massas de ar quentes e secas vindas do norte de África, a ilha era visível dos quatro cantos de Fantasia.
Para chegar ao convento onde o unicórnio e a princesa Ju estavam, era uma verdadeira aventura e um constante ultrapassar de barreiras.
Primeiro era necessário tomar o barco e resistir à turbulência marítima. De seguida, ser capaz de atracar na ilha uma vez que não havia porto, mas molhes mais ou menos visíveis. A seguir, subir uma colina pedregosa, bastante íngreme, em rocha . Uma vez chegado ao topo, descer umas escadas em pedra, irregulares, ora estreitas, ora largas, ora completas, ora incompletas. Além disso, a descida era acentuada e bastante longa. Por fim, tinha de se atravessar uma ponte para se chegar ao convento fortificado. Este desenhava-se numa planta poligonal irregular, apresentava uma edificação principal no terrapleno, com treze salas ou quartos e mais sete compartimentos no interior das muralhas. Um corredor sem iluminação dava acesso internamente aos vários pontos da estrutura.
O unicórnio Olho Azul e a princesa Ju estavam numa das salas do convento. Não havia móveis na divisão. Só dois colchões e água potável numa jarra. Da janela gradeada entravam raios de sol.
A certa altura ouviu-se a chave a destrancar a fechadura da porta principal. O unicórnio aproximou-se de Ju para a proteger. Quem estaria do outro da porta?
***
Foto de F Nando

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Liana e Hector


Liana e Hector colocaram a Criança e Minedu à vontade. Disseram-lhes que podiam procurar por todo o lado ainda que as águas furtadas fossem uma divisão grande. Era realmente espaçosa e estava muito bem decorada. Havia estantes com livros com lombadas gravadas a ouro, uma secretária e uma cadeira (local de trabalho, com certeza), e num dos recantos sofás de veludo verde garrafa e uma mesa ao centro onde repousavam alguns objectos.
Nas paredes havia quadros com o retrato de alguns elfos, espadas com o punho trabalhado com motivos da natureza e medalhões das diferentes famílias de Elfos.
Candelabros de pé alto e com vários braços que sustinham velas verdes e carmim. Nas janelas havia reposteiros igualmente verdes e cortinas cor de mel em cambraia. Era uma divisão acolhedora. Muito!
O amuleto continuava a brilhar. Brilhava em todas as direções. Liana aconselhou a Criança a disciplinar as buscas. A começar por um ponto e só depois seguir para outro. Na estante dos livros o brilho do amuleto esmoreceu. Junto da secretária e depois de abrir e fechar as gavetas nada de novo aconteceu. O amuleto mantinha-se apenas iluminado. A seguir, a Criança passou para o local onde estavam as asmas, os medalhões e os quadros e nada. Faltava-lhe ir ao recanto mais encantador das águas furtadas.
Hector pediu a todos que se sentassem e esperassem um pouco. Achava que ali estava a resposta para aquela estadia ali. Sentaram-se. A Criança estava desanimada, assim como Minedu. Liana deu um beijo no rosto da Criança e abraçou-se durante algum tempo. A Criança achou aquele abraço muito reconfortante.
Entretanto, incapazes de explicarem, o amuleto começou a brihar e a piscar com intensidade. O que quer que fosse, estava com certeza em cima da mesa de centro. Depois de abrir os livros, de tirar as flores da jarra, abriram uma pequena caixa de marfim. O amuleto não parava de piscar. Retiraram a rocha com desenhos e o amuleto parou de brilhar. Tinham encontrado o que procuravam.
Como a Criança não conhecia aquela rocha pintada, Liana e Hector explicaram que se tratava de uma runa. As runas ajudavam na previsão do futuro e a encontrar soluções para as grandes questões da vida das pessoas.
- Posso levar a runa? - perguntou a Criança.
- Claro! - disseram os elfos a uma voz.
- Mas como nos vai ajudar? - quis saber Minedu.
- Têm de ir ao País dos Druídas. Aí as runas serão lançadas e interpretadas por uma das sacerdotisas. - explicou Liana.
- Será que é desta que vamos encontrar a princesa Ju?
- Claro que sim, Criança. Segue o teu amuleto, segue o teu coração, leva a runa e acredita na tua força. Tens tido muita coragem!
- Obrigada. Sois muito gentis.
Despediram-se e partiram agradecendo a ajuda e amabilidade de Liana e Hector.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Novos Sinais

Quando a luz do amuleto brilhou, sem que ninguém visse a não ser a Criança, esta não soube de imediato o que fazer. É que estava na aula de Espanhol e tinha de ser muito convincente para sair da sala. A Criança ergueu o braço para poder falar.
A professora Carmen ouviu atentamente a Criança e aceitou a sua explicação. Se tinha dentista marcado, que fosse à consulta. Tinha era de trazer a justificação para entregar à Directora de Turma.
O plano não dera cem por cento certo, porém conseguira sair. Era necessário seguir as indicações do amuleto.
Foi ter com Minedu nas traseiras do pavilhão gimnodesportivo, subiu para o seu dorso e elevaram-se nos céus.
Assim que entraram em Fantasia, o amuleto conduziu-os a casa de um casal de elfos. A Criança não compreendia por que estavam ali. Sabia sim que a princesa Ju não estava ali. Aquele era um jovem e respeitável casal, a quem os elfos obedeciam.
Minedu aterrou, a Criança apeou-se e bateu à porta. Os elfos mandaram-nos entrar. A Criança explicou que recebera um alerta do amuleto que o conduzira ali e não sabia porquê. Os elfos também não conseguiam explicar por que tinham sido trazidos até ali. Nada sabiam. Não tinham qualquer pista. O desalento tomou conta da Criança. Foi aí que Minedu interveio.
- Se estamos aqui é porque têm algo que nos ajudará.
- O quê? - perguntou o Elfo.
- Um livro antigo de Fantasia, um objecto, uma jóia. - insistiu Minedu.
-Não, temos pena.
Enquanto tomavam um delicioso e odorífero chá, o amuleto voltou a brilhar. A Criança pediu licença, ergueu-se pronta a segui-lo, e este levou-o às águas-furtadas da casa dos elfos.
Estaria o amuleto a conduzi-la na direção certa? Que iria encontrar? Não estaria a invadir a privacidade do casal? Será que o amuleto não se iria enganar de novo?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Momentos difíceis


Ju ouviu o arfar da criatura, que ela imaginava hedionda e capaz de a devorar, e encolheu-se ainda mais. Sentia-se aterrada, sobretudo porque odiava o ar insalubre e a falta de luz. Vencida pelo cansaço, adormeceu.

- Princesa Ju? Princesa Ju? - Mas nem uma única resposta.

- Acordai, princesa! Por favor, acordai!

A princesa parecia ter desfalecido porquanto estivesse ainda viva. Mas não se mexia e a sua respiração era fraca. A criatura aproximou-se da princesa a muito custo, pois estava ferida e sangrava. Voltou a chamar bem junto ao ouvido da princesa:

- Acorde minha Princesa. Peço-lhe desculpa por ter posto a sua vida em risco. Estamos nas masmorras de um convento e nas mãos de um homem terrível.

A criatura deitou-se e aconchegou o seu corpo ao da princesa. Estava enregelada. Precisava de calor para recuperar a consciência.

Horas passaram e nada aconteceu. Dias passaram e a princesa Ju começou a delirar de tão febril que estava. E foi numa das visitas do carcereiro que este retirou a princesa e a criatura para uma sala com luz e colchões de palha. Depois apareceu uma velha curandeira que tratou com mezinhas antiquíssimas da princesa e da criatura. Ambos melhoraram depois de meses e meses. A princesa ficou feliz ao reconhecer na criatura que tanto a tinha assustado o seu amigo unicórno.

O tempo passou e em Fantasia o medo de ter perdido não só a princesa Ju como o unicórnio Olho Azul parecia cada vez mais uma certeza. Alguns habitantes lamentavam a sorte de ambos, outros choravam, outros nada faziam no dia a dia.

Será que estava tudo perdido? Estariam mortos e esquecidos algures?

Não. Nós sabemos que não, verdade? Alguém num lugar bem distante ouviu o pedido de socorro da princesa e está agora a preparar-se para uma longa jornada! Quem será?