quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um pedido de desculpas atrasado

Admito que não tenho agido bem como autora. Abandonei Fantasia há meses e nunca dei uma explicação. Não o fiz por mal. De repente, as palavras escassearam, deixei de poder entrar nesse mundo maravilhoso e proteger as minhas personagens, que continuam presas e sem qualquer sinal de vida.
Princesa Ju, não foi minha intenção deixá-la nas mãos de estranhas criaturas e longe dos seus amigos e familiares, e ainda do seu reino. Peço desculpa.
Tenho de organizar melhor a minha agenda e voltar à escrita da sua história. As aventuras e surpresas ainda não terminaram.
Vou reler o que já narrei, tomar a minha poção de criatividade e entrar novamente em Fantasia. Devo-lhe isso e a todos os habitantes deste reino. Devo isso também aos meus leitores.
Estou de regresso. Não quero nem vou voltar atrás!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A missiva

As mãos da princesa tremeram ao abrir o pergaminho. O lacre partiu-se em pedaços caindo no chão. Ju Olhou-os antes de desenrolar a missiva e não muito longe ouviram-se corvos que, na cultura do povo de Fantasia, era um mau augúrio.
Ainda com as mãos trémulas e a voz sumida começou a ler em voz alta para que o unicórnio Olho Azul acompanhasse a leitura.
Era inevitavelmente uma mensagem do seu carcereiro.

"Cara Princesa

Não era minha intenção mantê-la cativa em condições tão deploráveis e tão pouco à vossa altura, no entanto tive de me ausentar e os meus serviçais e soldados acharam que era uma prisioneira qualquer.
Agora terá o tratamento que merece. Irá para instalações apropriadas e será tratada pelas fadas desta ilha. Durante três dias tomará banhos perfumados, a sua pele será massajada com óleos florais e o seu cabelo será tratado com cremes que o tornarão macio. Será bem alimentada. Poderá tocar piano na sala de música ou outro instrumento do vosso agrado.

A Princesa ficará numa ala e o vosso unicórnio ficará noutra. É essencial que assim seja.
A partir daqui nunca mais sofrerão humilhações. Serão como que meus convidados. Depois, Passados esses dias, serão presentes perante mim. Só então direi o que pretendo.
Espero que apreciem a estadia a partir de agora!
Um vosso admirador."

- Separados? Seremos separados? - disse o unicórnio Olho Azul. - Temo pela nossa integridade.
Perante o silêncio fundo da princesa Ju, o unicórnio calou-se e esperou que a princesa e amiga saísse daquele transe.
- Vem aí uma tempestade. Pressinto-a. - disse Ju com uma voz triste. - Se nos separam, isso só quer dizer que algo se vai passar. Mas o quê?
- Vamos aguardar e esperar. - respondeu o unicórnio.
A princesa acenou que sim, tentou rasgar o papiro sem conseguir e aproximou-se da janela gradeada. Em silêncio, olhando o céu azul, pediu a todos os seres mágicos de Fantasia que a resgatassem antes que fosse tarde demais.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Indecisões

Durante uns momentos a princesa Ju ficou estática a olhar para o brasão que estava no lacre sem abrir o pergaminho. Parecia-lhe reconhecer a família brasonada. Trocou breves palavras com Olho Azul e sentou-se no colchão, que ambos aproximaram mais da janela para a princesa ver melhor.
A imagem não era nítida, mas depois de apurada observação e com a ajuda do unicórnio chegaram à conclusão que se tratava de um centauro, o que não era um bom augúrio pois representava a brutalidade, a invencibilidade, a força. Quem escrevera aquela missiva pertencia a uma família nobre ameaçadora, poderosa. A princesa já sentira a brutalidade do seu carcereiro nos primeiros tempos que ali permanecera.
Sentia receio de abrir o pergaminho. Antes de o fazer levantou-se, foi até à janela gradeada, olhou para o exterior à procura de paz e coragem. Via apenas o mar e o céu. O mar era de um azul transparente, para se tornar de um azul mais escuro devido à profundidade. Também o céu estava azul, sem uma nuvem. O sol brilhava em todo o seu esplendor.
"Há quanto tempo estamos aqui?" - perguntou-se mentalmente. "Que nos vai acontecer? Nunca mais verei Fantasia?"
- Princesa, princesa - repetiu o unicórnio Olho Azul por ela estar tão absorta nos seus pensamentos - tem de ler o que está escrito no pergaminho. Pode ser que tenhamos uma boa surpresa.
- Achas? Não creio! Viste o brasão como eu e sabes bem o que significa.
- Sei princesa Ju, mas podemos sempre ter esperança.
- Sim, eu sei. Só que algo me diz que não será assim Olho Azul.
A princesa saiu de perto da janela, sentou-se no colchão onde tinha deixado o pergaminho mirou ainda o brasão e de seguida abriu-o.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

No País dos Druídas

Anoiteceu depressa. Depois da Criança e de Minedu terem descansado foram presentes a uma sacerdotisa. Esta igualmente bela e inteligente falou-lhes um pouco da história do povo druída. Disse-lhes que os druídas eram de uma elevada estirpe, que ocupavam o lugar de juízes, doutores, sacerdotes, adivinhos, magos, médicos e até astrónomos.
Depois de ouvir estas palavras, Minedu interveio:
- Parece-me também que as mulheres têm um papel muito importante.
A sacerdotisa disse:
- Aqui todos somos iguais. Por isso as mulheres partilham com os homens os mesmos direitos. Podem mesmo divorciar-se se quiserem.
- Esta civilização assemelha-se à minha, embora não nos trajes e na beleza. As mulheres mais parecem deusas.
- E são criança.
- Têm algum tipo de escrita? Livros?
- A nossa escrita é uma escrita mágica. É uma escrita rúnica. Símbolos que são escritos em pedras. Ora esta escrita são oráculos adivinhatórios.
- Então a pedra que trago comigo é uma runa?
- Sim, Menino. Essa runa trouxe-te até nós. Precisas de saber algo?
- Sim. Tenho de encontrar a princesa Ju e o unicórnio Olho Azul que foram raptados há muito tempo.
- Aqui é o local ideal para saberes onde encontrá-los. Irão ser recebidos por outra sacerdotisa com mais idade e experiência.
- Quando? - quis saber a Criança.
- Só depois de amanhã, pois a sacerdotisa foi chamada para ler um oráculo.
- Que pena! - disse Minedu.
- Entretanto aproveitem para conhecer um pouco os druídas, convivam com as nossas crianças.
Apesar da ansiedade, a Criança e Minedu conheceram alguns druídas e o seu país.

sábado, 16 de abril de 2011

A caminho de novo

Enquanto isso, a Criança seguia o caminho que o seu amuleto indicava. Levava consigo a runa que encontrara na casa do casal de elfos. Tinham sido muito pacientes e amáveis.
Agora voava sem bem saber onde iria parar. Afastava-se das zonas habitadas de Fantasia que tão bem conhecia. Entrava num outro mundo, parecia-lhe. Havia florestas densas, rios largos e perigosos, andando mais e mais, ele e o Dragão de Penas foram dar a um pântano. Ainda bem que o dragão voava senão teriam sido engolidos pelas terras pantanosas.
Dias e noites passaram sem que a luz do amuleto se apagasse. Continuaram viagem. Ao chegarem a uma zona algo montanhosa e verdejante viram uma pequena povoação. O amuleto começou a piscar e a Criança pediu ao Dragão de Penas que descesse assim que encontrasse um largo ou uma clareira.
Assim que puseram os pés em terra firme, surgiram várias mulheres guerreiras. Uma delas, mais alta, tomou a posição dianteira.
A Criança sentindo medo. subiu para o dorso do dragão, mas antes que levantassem voo a bela guerreira disse:
- Sejam bem-vindos ao País dos Druídas. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde chegariam.
«Como é que elas sabiam?» questionou-se a Criança, pois nem ela sabia onde o amuleto a conduziria.
- Em breve conversaremos sobre o que vos traz aqui. Agora vão alimentar-se e descansar.
- Obrigada. - agradeceu a Criança.- Estamos de facto cansados.
- Levem-nos e tratem bem deles. - Disse a que parecia a líder.

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Foto de F Nando

sábado, 5 de março de 2011

Do outro lado do medo...

Depois do barulho metálico e áspero da chave a rodar na fechadura, a porta abriu-se chiando nos gonzos gastos e ferrugentos.
A princesa Ju e o unicórnio Olho Azul refugiaram-se no canto esquerdo da porta. Olho Azul colocou o seu corpo elegante e robusto à frente da princesa. Ambos sabiam que quem quer que fosse que estivesse ali, não vinha amistosamente.
Ju pedia mentalmente proteção aos seus amigos de Fantasia. Dirigia cantos melodiosos em seu nome e em nome do seu unicórnio. Gritava silenciosamente que os resgatassem do homem hediondo e bruto que os raptara.
A pessoa que estava do outro lado da porta levou algum tempo a entrar o que assustou ainda mais a princesa. Era ele. Era o homem sinistro que a queria à força para si.
O medo antes sentido, foi superado pela surpresa que a figura que entrou na sala , a custo, provocou. Era um ser híbrido. Um homem-árvore esculpido tocasmente a cinzel e formão, que se locomovia com dificuldade. Parecia uma marioneta, mas sem os cordéis para o guiarem. Apesar da estranheza da figura não tinha um ar ameaçador. Antes pelo contrário.
Ju saiu detrás do unicórnio porquanto o unicórnio lhe murmurasse para ter cuidado. Não sabiam o que iria acontecer! O homem-árvore aproximou-se dos prisioneiros e transmitiu-lhes gestualmente uma mensagem, em várias etapas e sem expressividade, pois o seu corpo de madeira não o permitia. Nem que quisesse sorrir e interiormente queria-o para lhes transmitir esperança, não conseguia. Só os seus olhos brilhavam tenuemente. Todos os seus movimentos eram quebrados, mas muito longe de transmitir um qualquer vestígio de ameaça ou outro acto de violência.
Antes de se retirar, o homem-árvore entregou um pergaminho à princesa Ju. Estava selado com lacre rubi onde se via com nitidez o selo dos fidalgos a que o mesmo pertencia. Saiu da sala de costas para a porta, fez uma vénia com dificuldade e transpôs a porta que voltou a chiar nos gonzos enquanto a fechava de novo à chave.
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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Uma ilha no Atlântico

Aquele era, de facto, um lugar difícil de se lá chegar. Tratava-se de uma ilha no meio do Atlântico, longe de Fantasia e sempre envolta em neblina. Permanecia invisível a maior parte do ano! Só no Verão, graças às massas de ar quentes e secas vindas do norte de África, a ilha era visível dos quatro cantos de Fantasia.
Para chegar ao convento onde o unicórnio e a princesa Ju estavam, era uma verdadeira aventura e um constante ultrapassar de barreiras.
Primeiro era necessário tomar o barco e resistir à turbulência marítima. De seguida, ser capaz de atracar na ilha uma vez que não havia porto, mas molhes mais ou menos visíveis. A seguir, subir uma colina pedregosa, bastante íngreme, em rocha . Uma vez chegado ao topo, descer umas escadas em pedra, irregulares, ora estreitas, ora largas, ora completas, ora incompletas. Além disso, a descida era acentuada e bastante longa. Por fim, tinha de se atravessar uma ponte para se chegar ao convento fortificado. Este desenhava-se numa planta poligonal irregular, apresentava uma edificação principal no terrapleno, com treze salas ou quartos e mais sete compartimentos no interior das muralhas. Um corredor sem iluminação dava acesso internamente aos vários pontos da estrutura.
O unicórnio Olho Azul e a princesa Ju estavam numa das salas do convento. Não havia móveis na divisão. Só dois colchões e água potável numa jarra. Da janela gradeada entravam raios de sol.
A certa altura ouviu-se a chave a destrancar a fechadura da porta principal. O unicórnio aproximou-se de Ju para a proteger. Quem estaria do outro da porta?
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Foto de F Nando