sábado, 5 de março de 2011

Do outro lado do medo...

Depois do barulho metálico e áspero da chave a rodar na fechadura, a porta abriu-se chiando nos gonzos gastos e ferrugentos.
A princesa Ju e o unicórnio Olho Azul refugiaram-se no canto esquerdo da porta. Olho Azul colocou o seu corpo elegante e robusto à frente da princesa. Ambos sabiam que quem quer que fosse que estivesse ali, não vinha amistosamente.
Ju pedia mentalmente proteção aos seus amigos de Fantasia. Dirigia cantos melodiosos em seu nome e em nome do seu unicórnio. Gritava silenciosamente que os resgatassem do homem hediondo e bruto que os raptara.
A pessoa que estava do outro lado da porta levou algum tempo a entrar o que assustou ainda mais a princesa. Era ele. Era o homem sinistro que a queria à força para si.
O medo antes sentido, foi superado pela surpresa que a figura que entrou na sala , a custo, provocou. Era um ser híbrido. Um homem-árvore esculpido tocasmente a cinzel e formão, que se locomovia com dificuldade. Parecia uma marioneta, mas sem os cordéis para o guiarem. Apesar da estranheza da figura não tinha um ar ameaçador. Antes pelo contrário.
Ju saiu detrás do unicórnio porquanto o unicórnio lhe murmurasse para ter cuidado. Não sabiam o que iria acontecer! O homem-árvore aproximou-se dos prisioneiros e transmitiu-lhes gestualmente uma mensagem, em várias etapas e sem expressividade, pois o seu corpo de madeira não o permitia. Nem que quisesse sorrir e interiormente queria-o para lhes transmitir esperança, não conseguia. Só os seus olhos brilhavam tenuemente. Todos os seus movimentos eram quebrados, mas muito longe de transmitir um qualquer vestígio de ameaça ou outro acto de violência.
Antes de se retirar, o homem-árvore entregou um pergaminho à princesa Ju. Estava selado com lacre rubi onde se via com nitidez o selo dos fidalgos a que o mesmo pertencia. Saiu da sala de costas para a porta, fez uma vénia com dificuldade e transpôs a porta que voltou a chiar nos gonzos enquanto a fechava de novo à chave.
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