domingo, 28 de março de 2010

A Fada Violeta


Quando a princesa abriu a porta viu que o visitante trazia uma capa e um capuz violeta que lhe cobria o rosto. Quando o visitante tirou o capuz, já nos aposentos privados da princesa, a princesa Ju constatou que se tratava da fada Violeta.

A fada Violeta tinha um olhar triste, algo distante, e os seus gestos crispados denotavam preocupação e um certo nervosismo. Ju, que nunca a vira assim, ficou apreensiva. Não era hábito uma fada deslocar-se sozinha ao palácio de madrepérola.

- Que se passa fada Violeta? - perguntou Ju.

- Desculpe incomodá-la princesa Ju, mas não teria vindo se não fosse realmente grave.

- Não me incomoda nada. Diga-me o que tanto a perturba.

- Como sabe, as fadas costumam reunir-se ainda no Inverno para antever o que possa vir a acontecer em Fantasia.

- Sim. Conheço o vosso ritual de previsões antes do início da Primavera.

- E que vos traz cá então? Há alguma novidade?

- Há e não é nada agradável - parou e respirou fundo. - Algo muito grave está para acontecer em Fantasia.

- Conseguiram ver quem ou o que é que corre perigo? - perguntou a princesa Ju.

- Mais ou menos. Não ficou muito claro. Só sei dizer-vos que começará com o desaparecimento de um dos vossos unicórnios.

- Olho Azul?

- Não sei dizer-vos. Também não consigo dizer-vos mais quanto ao resto.

- Teremos de nos organizar muito bem. Acho que o unicórnio Olho Azul pode vir a desaparecer. Além disso, sempre que a Criança pressente perigo vem logo em nosso socorro.

A fada Violeta ao ouvir o nome da Criança sorriu ao de leve. Passado algum tempo, foi-se embora. A princesa Ju ficou muito séria e pensativa. Como deveria agir? Deveria chamar já a Criança e pô-la ao corrente desta conversa?

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Imagem retirada de

quinta-feira, 25 de março de 2010

No palácio da princesa Ju


Diferentes habitantes moravam no palácio de madrepérola. No rés-do-chão, ficavam os unicórnios. No primeiro andar elfos e duendes. O terceiro andar era da princesa Ju e de outras princesas da sua família e de outras famílias de Fantasia.

Ju gostava de passar algum do seu tempo com os outros habitantes. De manhã, estava com os unicórnios, afagava-os, falava com eles e, por vezes, até montava um pouco. Para Ju, eles eram todos iguais, embora preferisse o Olho Azul por ser muito, muito dócil. Sem explicação, o comportamento deste unicórnio mudou drasticamente. Sempre que saía, começou a ter comportamentos estranhos, muito estranhos. A princesa Ju esperava que a Criança a pudesse ajudar.

À tarde, depois de almoçar com as princesas, a princesa Ju descia ao segundo andar para estar com os elfos e duendes. Como era Inverno, contavam histórias e aventuras uns aos outros, jogavam aos enigmas e cantavam belas canções.

Depois desses momentos, subia aos seus aposentos. Aí juntava-se às outras princesas. Todas faziam o que mais gostavam. Umas faziam grinaldas de flores de papel, outras cozinhavam, enquanto Ju ia para a sala de música tocar flauta.

Todos viviam em perfeita harmonia. As refeições eram em comum, na grande sala de refeição e não havia empregados. Todos se organizavam em grupos para que nada faltasse na despensa do palácio e na mesa. Se havia dúvidas, todos consultavam Ju, a verdadeira dona do palácio de madrepérola. Os pais viviam numa outra clareira, algo afastada de Ju, comparecendo em festas, visitando-a em num ou noutro fim-de-semana, ou se a princesa os chamasse.

Os seus doze anos não a impediam de ter o seu palácio, desde que se mostrasse responsável em todas as ocasiões, senão perderia a confiança dos pais. Porém Ju era uma jovenzinha muito responsável, afável e zelava pelo bem estar dos habitantes do seu palácio.

Os dias pequenos de Inverno iam crescendo devagar até que a Primavera se foi aproximando lentamente. Certa tarde, um dos Elfos subiu ao andar da princesa Ju para lhe dizer que a procuravam. Havia um visitante à porta de entrada do palácio que pedia para ser ouvido por Ju. A princesa pediu ao Elfo que dissesse ao visitante que desceria dali a pouco.
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Toto retirada de

quinta-feira, 18 de março de 2010

Encontro inesperado


O salão nobre do palácio tinha dois candelabros de cristal enormes que iluminavam a sala. Havia uma orquestra em cima de um estrado. Havia pares que dançavam de tal forma, que parecia que deslizavam numa pista de gelo. Os passos e os gestos eram muito graciosos.

Quando a Criança e Minedu chegaram à porta de entrada, fez-se silêncio. A anfitriã saiu do seu lugar e foi recebê-los. Explicou-lhes que os mandara chamar, não por haver uma emergência qualquer, mas para participarem também na Festa do Inverno no palácio de madrepérola.

Os olhos da Criança estavam fixos na bela jovem que estava à sua frente. Achou-a linda. Achou-a perfeita. Prestou atenção no seu olhar doce, no seu rosto cândido, no seu sorriso encantador. Tinha uns cabelos longos, sedosos e brilhantes. A sua voz era suave. A princesa Ju explicou à Criança que há algum tempo que queria conhecê-la, mas teria de ser numa ocasião especial. Numa festa que homenageasse Fantasia e todos os seus habitantes: humanos e não humanos.

Quando a bela jovem voltou a falar, disse que se chamava Joana, embora todas a tratassem por Ju, que tinha doze anos e era princesa. Ali todos tinham lugar.

A Criança agradeceu e aceitou o convite. Os dois foram sentar-se nos sofás de veludo carmim a conversar. Entretanto, os convidados tinham reiniciado o baile. Homens e mulheres, elfos, princesas, unicórnios dançavam. Por vezes paravam para beber sumos de frutos naturais, água e comiam bolos de frutos silvestre, pãezinhos de leite com fiambre, mel e compotas.
A noite ia avançada quando a Criança se despediu de Ju, a princesa que o convocara para a festa mas que também lhe segredara que precisava de se encontrar com ela de novo, por causa deum dos unicórnios. A Criança despediu-se de todos e já no último degrau da escadaria, subiu para o dorso de Minedu e partiu.
Naquela noite, a Criança sonhou com a princesa Ju...
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Foto de N Augusto

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Palácio de Madrepérola


O frio cortante sentia-se mais nos céus. Minedu procurou proteger a Criança com a sua plumagem. Não sabiam o que iriam encontrar nem em que parte de Fantasia. Deixavam-se guiar pelo amuleto que brilhava com intensidade. Voavam o mais depressa que podiam.

A dada altura, o amuleto começou a acender e a apagar continuamente o que indicava que estavam perto do local. Alguns momentos depois avistaram uma luz intensa que iluminava grande parte da floresta. Nessa altura, a luz do amuleto extinguiu-se e Minedu desceu em direcção àquela luz.

O que tanto brilhava, deixou-os boquiabertos. Era uma palácio maravilhoso todo construído em madrepérola e completamente iluminada.

A Criança saltou para o chão cheia de curiosidade. Minedu também não foi capaz de disfarçar como tinha ficado maravilhado. Ele, que conhecia Fantasia, como é que nunca vira semelhante palácio?

Quem os esperava no cimo de uma longa escadaria em caracol era o Unicórnio. Convidou-os a juntarem-se a ele e deu as boas-vindas aos dois. A Criança e Minedu estavam estupefactos. Ainda há algum tempo andava completamente desorientado e agora estava ali, simpático, cordial, calmo. Tinha umas lindas borboletas que dançavam em torno do seu pescoço, como se fossem um colar.

Ainda que a Criança lhe fizesse várias perguntas sobre a necessidade de estarem ali, o Unicórnio limitou-se a responder com monossílabos que em nada esclareciam a situação.

Os corredores pelos quais iam passando eram todos eles em madrepérola e prata. Neles podiam ver-se esculpidas todas as criaturas que habitavam Fantasia. Subiram ao segundo andar por uma majestosa escadaria. O Unicórnio mandou-os entrar na sala. E o que viram deixou-os se não apaixonados, pelo menos fascinados.
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sexta-feira, 5 de março de 2010

Festa de Inverno


No primeiro dia de Inverno, todas as escolas de Fantasia fecharam. Tinha caído um grande nevão e não era seguro sair de casa. Ainda assim, alguns jovens festejaram o facto fazendo bonecos de neve e atirando bolas de neve uns aos outros ou deslizando nas ruas dos seus bairros. Outros não gostavam nada dos nevões, pois ficar fechado em casa não era nada agradável. Havia pais mais rigorosos, claro.

Na floresta também os duendes, os gnomos, as feiticeiras, as bruxas, as fadas, os unicórnios se deliciavam com essa nova paisagem. Faziam mil e uma diabruras uns aos outros, presentes, surpresas, que há muito tinham planeado em segredo! É que o início do Inverno era celebrado com uma festa. Do mundo dos humanos, só a Criança sabia e participava nessa festa.

Começavam por acender fogueiras e tochas, colocavam na Clareira dos Encontros uma longa mesa de madeira e bancos corridos. Nessa mesa colocavam bebidas e alimentos naturais. Colocavam também saquinhos de sarapilheira e era nesses saquinhos que estavam os presentes, as surpresas e uma ou outra diabrura.

O Inverno significava para todos uma purificação da natureza e de todos os seres. Algo desaparecia para regressar na Primavera em todo o seu esplendor. Daí que tudo fosse muito natural e relacionado com a Natureza.

Tudo ficou pronto às dezassete horas. Ainda havia um frágil raio de luz, mas com tantas fogueiras e tochas acesas havia luz e calor suficientes. Primeiro, beberam chocolate muito quentinho com "marshemellows"; comeram bolos de avelã e amêndoas; maçãs caramelizadas; favos de mel. Depois trocaram os saquinhos de sarapilheira. Em alguns havia runas que prediziam o futuro. Noutros havia tarefas que tinham de ser realizadas, como ir buscar uma bola de neve e oferecê-la a alguém ou dizer uma quadra alusiva ao Inverno.
Estava-se nesta fase de descontracção e diversão, quando o amuleto da Criança começou a brilhar. Mais uma vez a solicitavam para ajudar algo ou alguém. Minedu que estava logo ali, compreendeu o chamamento silencioso da Criança e foi ter com ela.
Pedindo desculpa a todos os convivas, a Criança disse-lhes que tinha de se ausentar pois estavam a precisar dela em qualquer ponto de Fantasia. Pulou para o dorso de Minedu, o dragão de penas, e partiram.
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