sexta-feira, 30 de abril de 2010

Encontro com as Fadas

Foto de F Nando
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Anoiteceu e nem sinal dos habitantes do Palácio de Madrepérola. A Criança, cansada e desiludida, pediu a Minedu para regressarem a casa. Com a chegada da escuridão não conseguiriam ver nada nem ninguém. Continuariam no dia seguinte.
Assim que o dia nasceu, Minedu e a Criança elevaram-se nos céus. Voaram pelos céus de Fantasia sem que o amuleto lhes indicasse um caminho a seguir. Combinaram entre os dois passar de novo pelos locais do dia anterior. Além disso, foram ao palácio das Fadas. A Fada Violeta recebeu-os consternada, pois já sabia do que se tinha passado.
- Fada Violeta, a situação é mais grave do que as vossas previsões. Que se passa em Fantasia?
- Não sei explicar tudo o que está acontecer, porque pela primeira vez errámos nas previsões. Mas é terrível. Terrível.
- Já me apercebi disso - disse a Criança - pois nem o meu amuleto funciona como antes.
- Afinal não foi o unicórnio de olho azul que desapareceu. Foi a Princesa Ju que foi raptada na noite da Festa de Solstício. Ninguém pôde socorrê-la, pois a criatura hedionda que a levou deu a todos uma poção envenenada.
- Morreram todos?
- Não, Criança. Acordaram muito confusos. Ainda estão atordoados com a poção e assim vão ficar durante mais uns dias. - Explicou a Fada Violeta.
- Que vamos fazer?
- Vem comigo. Traz também Minedu. Meninas, venham connosco. - disse a Fada Violeta para as outras fadas.
Saíram do palácio e foram para o belíssimo jardim que havia nas traseiras. Sentaram-se todos em volta do lago e a Fada Violeta usou a sua varinha mágica. A princípio nada aconteceu. A fada repetiu o gesto e à tona da água surgiram rochas, depois algo que se assemelhava ao mar e um forte ou castelo. Tudo desapareceu num ápice. Eram as pistas que tinham. Quem as poderia interpretar? Qual o seu verdadeiro significado? Que outros poderes poderiam utilizar?
A Criança foi a primeira a falar depois de uns momentos de profundo silêncio.
- Que quer isto dizer? Estas pistas indicam-nos o caminho a seguir?
- Minedu, - disse a Fada Violeta - tu que conheces tão bem Fantasia, lembras-te de algum local?
- As rochas podem ser os rochedos de quaquer cabo de Fantasia que tenha um castelo ou forte. Há vários nesta nossa terra.
- Então é isso que devemos fazer. Ir a todos os cabos até encontrarmos a princesa Ju. Vamos? - perguntou a Criança.
- Calma, calma - pediu a Fada Violeta. - Esta foi a primeira opinião. Temos de ouvir outras.
Houve várias, claro. Uma das fadas, a Fada Luna, disse que conhecia um forte semelhante ao que surgira à tona da água em cima de uma montanha rochosa e que a água do mar podia ali estar para confundir. A Criança disse que concordava com a opinião de Minedu. Parecia-lhe longe de mais a princesa Ju estar num local sem acesso, como o forte em cima da montanha. O melhor era ir a todos os locais indicados e esperar que o amuleto voltasse a brilhar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Amuleto em acção


Ainda mal se tinha deitado, quando a Criança acordou sobressaltada. O seu amuleto começara a brilhar continuamente. Não havia tempo a perder. Algo de grave se estava a passar em Fantasia. Vestiu-se rapidamente e desceu as escadas. Quando abriu a porta, já Minedu a aguardava. A Criança saltou-lhe para o dorso e ambos se elevaram nos céus.

O amuleto conduziu os dois ao palácio de Madrepérola. Bateram na maçaneta da porta, porém ninguém veio abrir. A Criança insistiu. Nada. Ninguém. Parecia que ninguém se encontrava no castelo. O amuleto da Criança voltou a brilhar.

A Criança e Minedu percorreram os céus à procura dos habitantes do palácio de Madrepérola. Talvez algo se tivesse passado lá dentro. O amuleto conduziu-os à Clareira das Decisões onde tinha decorrido a festa. Ainda havia duendes adormecidos e um ou outro habitante de Fantasia. Depois de Minedu pôr as patas no chão e se colocar em posição para a Criança descer, ela saltou para o chão e tentou acordar os que ali dormiam. Bem tentou. Abanou-os primeiro com cuidado e depois com um pouco mais de força. Nada. Algo de muito estranho se estava a passar. Ninguém conseguia dormir tão profundamente e não acordar depois de alguém os tentar acordar com energia.

O amuleto voltou a brilhar. Era chegado o momento de ir a outro lugar de Fantasia. Desta vez foi dar ao País dos Pés Gigantes. Estes estavam, ao contrário do que acontecera na festa, verdadeiras rochas. Não se humanizaram por muito que a Criança tentasse fazê-los falar.

Entretanto, por iniciativa própria, os dois encaminharam-se para os lados do mar. Talvez encontrassem alguém ou algo num Cabo ou numa das muitas praias de Fantasia.

Minedu e a Criança estavam cada vez mais preocupados e desorientados. Nunca o amuleto os tinha conduzido a um local ou à pessoa, animal, ser fantástico, que não estivesse em perigo. Um poder muito forte estava a enviar mensagens erradas. Que fazer? Continuar a procurar. Não podia ignorar o sinal de perigo que o amuleto emitia. A luz continuava a brilhar.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A Festa de Solstício II

Foto de F Nando
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As crianças e alguns adultos bebiam sumos naturais de laranja, de cenoura enquanto aguardavam o almoço. Outros adultos bebiam licores de frutos e vinho. Antes ainda da refeição, foram distribuídos morangos bem vermelhos, carnudos e docinhos e coktails de ervas. Depois seguiu-se o almoço. O primeiro prato foi javali assado no espeto regado com um molho à base de mel e bagas com salada de batata. O segundo foi peixe grelhado com salada de rúcula selvagem, abacate e bagas de romã. O terceiro foi lombo de porco companhado de maçã cozida. Havia também tartes de folhas tenras de alface e cenoura. Havia todo o tipo de sobremesas. Pasteis de maçã. Morangos embebidos em mel. Tarte de amoras. E fruta. Muita fruta, pois a terra de Fantasia era muito fértil.
Todos estavam felizes. Sentia-se essa felicidade no tom das vozes e via-se nos rostos sorridentes. A seguir ao almoço, depois de um breve descanso, seguiram-se as actuações musicais. Um grupo de rapazes tocou guitarra e, para surpresa dos habitantes mais velhos, um deles cantou de forma maravilhosa. No fim, recebeu muitos aplausos e elogios. Um grupo de meninas aprensentou uma dança alusiva ao tema da festa. Também elas cativaram o público. Depois foi a vez de todos dançarem. Havia rodas que se faziam e desfaziam com mais ou menos participantes.
Ao início da noite os mais jovens acenderam uma grande fogueira no centro da clareira e algumas tochas para iluminar o espaço. A festa continuava animada. O jantar foi ainda mais suculento: consomé de espargos; cataplana do mar, sapateiras recheadas, queijo de cabra e ovelha. Para beber, para além dos sumos de fruta, havia água e ponche de frutos do bosque bem fresquinho. O jantar foi uma animação.
A festa prolongou-se pela noite dentro até o sol raiar. Alguns adormeceram na clareira, outros regressaram a casa, outros ainda foram passear à beira mar. Os Pés Gigantes regressaram à sua terra. A Criança também foi para casa na companhia dos pais. A princesa Ju regressou com as outras princesas ao palácio. Os Elfos, os Gnomos e os Unicórnios foram ver o nascer do sol na praia. As fadas também ficaram a passear por Fantasia. Mas nem todos regressaram a casa...

A Festa de Solstício


A Festa de Solstício de Verão decorria no mês de Junho num espaço que confinava com a Terra dos Pés Gigantes, também eles grandes entusiastas desta festa. Os habitandes de Fantasia organizavam tudo a rigor. O espaço onde seriam servidas as refeições, o local onde se dançaria, o palanque onde se poderia discursar.

As mesas eram redondas e estavam decoradas com tecidos leves pintados com motivos alusivos ao Verão. À volta das mesas havia bancos de madeira de carvalho. O local do baile era uma clareira e das árvores em volta pendiam lianas com flores de papel que dava um colorido muito convidativo e aprazível ao olhar. O palanque era todo atapetado com ervas e decorado com tecidos coloridos e leves.

Os organizadores tinham-se esmerado na organização e decoração dos espaços para que todos os seres de Fantasia se esquecessem do que a Fada Violeta revelara à população. O tema dos trajes era o Verão e só se pedia muita criatividade a cada um dos participantes.

A hora do almoço aproximava-se. A pouco e pouco os habitantes iam chegando, surpeendendo os que já ali se encontravam. Os Elfos tinham optado por túnicas brancas pintadas à mão com motivos marítimos. Os gnomos optaram por um fatinho num verde muito mimoso com folhas de árvores aplicadas por todo o traje. Os unicórnios levavam em torno do pescoço véus com as cores do arco-íris. Os homens optaram por trajes informais. Calções em azul marinho e uma t-shirt com paisagens marítimas estampadas na frente. As senhoras optaram por vestidos longos, brancos, num tecido leve e adornaram-se com brincos, colares, pulseiras, ganchos e cintos feitos com conchas e outros materiais do mar.

A princesa Ju escolheu um vestido azul claro vaporoso que lhe assentava que nem uma luva. As outras princesas também escolheram tons pasteis: rosa, laranja, violeta, verde, amarelo. Traziam no cabelo grinaldas de flores. As fadas tinham optado por trajes longos brancos com folhas de hera como colares, pulseiras e grinaldas. A Criança também se esmerou. Trajava uma t-shirt castanha clarinha com folhas de árvores que a mãe aplicou e uns calções verde musgo. Na cintura trazia um cinto feito de cordas de barco. Minedu não precisava de muito. Ainda assim trazia ao pescoço um lindo colar de pequenos flores e folhas.

Estavam quase todos. Enquanto aguardavam por alguns que se tinham atrasado, um côro de meninas tocava flauta. Que bela música suave e doce! Transmitia tranquilidade, paz, alegria...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Preocupações de uma princesa


Nesse fim-de-semana, a Criança não pôde ir ter com a princesa Ju. Tinha um compromisso inadiável com a sua família. Não podia deixar os seus familiares. Iria logo que pudesse. Aliás, não podia adiar esse encontro por muito tempo.
Nas noites que se seguiram, a princesa Ju não conseguiu dormir de tão assustada e preocupada que andava. Andava de um lado para o outro no palácio de madrepérola, onde brilhavam sempre luzes de presença. Ia também ver o unicórnio Olho Azul que era vigiado ora por gnomos, ora por elfos. Ia para os seus aposentos, pegava num livro que logo abandonava em cima da poltrona. Descia de novo para ver o unicórnio. Fazia perguntas aos vigilantes. Só conseguia dormir duas a três horas.
Certo dia, ao fim da tarde, a Criança visitou a princesa Ju. Em vez de se reunirem no palácio decidiram ir até ao retiro da princesa. Aquela praia à beira mar. Foram conversando à medida que iam caminhando. Tinham de reunir os habitantes na Clareira das Decisões. Era chegada a altura de falar abertamente com os habitantes de Fantasia e divulgar o que a Fada Violeta tinha revelado. Aliás, ela própria o faria, pois também iria estar presente. Tinha de haver uma união total não só para vigiar o unicórnio Olho Azul, como para prestar atenção ao aparecimento de estranhos e atentar nos seus movimentos, sem nunca o fazerem sozinhos.
Pouco tempo depois, fez-se a reunião na Clareira das Decisões. O unicórnio ficou no palácio, como combinado. Para surpresa de todos, até que acatou bem a decisão de não ir à reunião. Passeou nos jardisn do palácio na companhia de outros unicórnios.
Na reunião ficou decidido que durante o dia, eram os habitantes de Fantasia que o acompanhavam, sem ele saber ou se aperceber. Dos céus a Criança e Minedu também tinham essa missão de zelar pelo bem-estar do unicórnio. Durante a noite, não poderia sair do palácio e continuaria a ser vigiado.
Passaram-se meses. Fez-se uma festa do solestício de Verão, para comemorar esta estação que era tão mágica em Fantasia. Mais um evento fantástico e muito esperado por todos.
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Imagem retirada de

Decisões difíceis

Minedu


Minedu foi buscar Criança para a levar para casa. Na viagem, Minedu partilhou com a Criança as preocupações da princesa Ju. A Criança ouviu atentatemente tudo sem interromper o dragão de penas. Trocaram breves palavras acerca do assunto.

Depois do jantar, a Criança fechou-se no quarto a reflectir. Concluiu que ainda era cedo para agir. Teria de esperar que o seu amuleto se iluminasse. Não podia distrair-se muito, pois as informações da Fada Violeta não eram para ser esquecidas.

Há muitos anos atrás, algo muito grave tinha acontecido, mas ninguém tivera em consideração os conselhos de Edu, o elfo com poderes adivinhatórios, e uma das princesas do palácio de madrepérola acabou por ser raptada por uma ratazana gigante, sendo o seu cadáver encontrado numa clareira, muito tempo depois.

Desta vez era um unicórnio que corria perigo. Havia também a possibilidade de este desaparacer inesperadamente de um dia para o outro. Todos os unicórnios eram especiais, mas o Olho Azul era especialmente especial. A mãe que o dera à luz, morrera pouco depois de lhe dar vida. Além disso, não havia outros unicórnios tão brancos como a neve e com os olhos azuis, azuis como o mar.

Tinha, de facto, ser vigiado. A princesa Ju trataria de controlar as saídas e entradas do unicórnio do palácio. Minedu e ela, a Criança, vigiariam também por terra e céu as suas saídas. Era também necessário pedir a colaboração de elfos, gnomos, princesas e outros habitantes de Fantasia.

Todavia, antes de pedir essa colaboração, teria de conversar com a princesa Ju para tomarem essas decisões em conjunto. Visitá-la-ia no fim-de-semana a não ser que algo de estranho se passasse.

Entretanto o fim-de-semana chegou.
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Imagem retirada de

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ju e o dragão de penas



- Que faz aqui princesa Ju?
- E tu, que fazes aqui? Alguém te pediu para me espionares? - respondeu a princesa.
- Não princesa! Voava pelo céu quando vos avistei e decidi descer para vos cumprimentar. Peço desculpa se a assustei.
- Sim foi um grande susto, mas estás desculpado.
- Não estás longe de casa? E a Criança.
- Estou. Estamos, não é verdade?
A princesa Ju não respondeu. Preferiu continuar a caminhar e Minedu caminhou a seu lado. Caminharam em silêncio por um tempo até que Minedu resolveu interromper aquele silêncio que a princesa impusera entre os dois.
- Sei que não devia intrometer-me e pode não responder se quiser, mas passa-se qualquer coisa, não passa?
A princesa Ju continuou a caminhar sem nada dizer. Depois voltou-se e com um brilho estranho no olhar disse:
- A Fada Violeta foi visitar-me e disse-me que algo muito grave iria acontecer em Fantasia. Temo que algo se passe com o unicórnio Olho Azul.
- Pois, pois... Compreendo. Além disso, ele tem-se comportado de forma tão estranha...
- É verdade. - Concordou a princesa Ju. - Tenho tanto receio que venha a desaparecer.
- Por que não pede ajuda a Criança?
- Estava a tentar encontrar uma solução sozinha. Por isso estou aqui! Penso melhor na praia.
- A Criança vai com certeza gostar de a ajudar.
- Por enquanto vou vigiar o comportamento e controlar as saídas do unicórnio Olho Azul. Quando for necessário chamarei a Criança.
Minedu explicou-lhe ainda que não se preocupasse que ele e a Criança viriam logo em seu socorro. A Criança saberia o momento ideal pois sentiria as palpitações, a ansiedade e o medo da princesa Ju.
Entretanto o sol descia no horizonte e Minedu perguntou à princesa se queria que ele a levasse ao palácio de madrepérola. A princesa agradeceu e subiu para o dorso do dragão de penas. Agarrou-se bem e levantaram voo. A paisagem era linda vista das alturas. Ju sentia-se livre e mais perto do céu. Minedu deu uma pirueta para que Ju sentisse essa emoção. Ju adorou a experiência. Nunca antes voara no dorso de um dragão.
Depressa chegaram ao palácio de madrepérola. A princesa convidou-o a entrar. Minedu respondeu que não podia pois tinha de ir buscar a Criança à escola.

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Nota: Foto de F. Nando

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Retiro



Na manhã do dia seguinte, bem cedo, a princesa Ju saiu sozinha do palácio de madrepérola. Embrenhou-se na floresta com passos suaves e seguros. Observou as árvores centenárias, as margaridas, as violetas, os lilases e outras flores campestres que já tinham florido. Ouviu o canto dos pássaros, o choro dos riachos, a música das cascatas.

Na mente da princesa Ju surgiam um número sem fim de ideias que ora se completavam e faziam sentido, ora colidiam umas com as outras. Só sabia que tinha de arranjar uma solução para proteger o unicórnio Olho Azul. Não podia deixar que desaparecesse assim sem mais nem menos. Além disso, ainda achava prematuro pedir ajuda à Criança.

Ju caminhou até ir dar à praia. Era aí que as suas ideias ficavam mais claras. Era esse o seu retiro: uma pequena praia de areia branca e muito fina, com alguns rochedos. O vaivém das ondas, o azul do céu e do mar a fundirem-se no horizonte tranquilizavam-na. Inalou tragos de maresia e fechou os olhos. E viu. Mas o que viu era tão horrível que abriu logo os olhos. Uma lágrima caiu pelo seu belo rosto.

Para se acalmar, fez alguns exercícios de respiração. Depois disso ergueu-se e caminhou pela praia. Não sabia como impedir o desaparecimento do seu unicórnio Olho Azul. Não podia simplesmente prendê-lo! Morreria com certeza. Ele era um ser livre e fantástico. Não, não podia ser. Essa não era a solução. E se ela mesma fosse ter com as fadas e pedir-lhes que fizessem uma nova previsão? Não era mal pensado. Sim, faria isso!

Ju estava nestas cogitações quando lhe tocaram nas costas. Ju assustou-se e deu um grito. Depois voltou-se e deu de caras com quem a retirava da calma do seu retiro. Como ousavam interrompê-la?
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Nota:
1- Foto de N Augusto
2- Foto de F Nando