sexta-feira, 29 de abril de 2011

A missiva

As mãos da princesa tremeram ao abrir o pergaminho. O lacre partiu-se em pedaços caindo no chão. Ju Olhou-os antes de desenrolar a missiva e não muito longe ouviram-se corvos que, na cultura do povo de Fantasia, era um mau augúrio.
Ainda com as mãos trémulas e a voz sumida começou a ler em voz alta para que o unicórnio Olho Azul acompanhasse a leitura.
Era inevitavelmente uma mensagem do seu carcereiro.

"Cara Princesa

Não era minha intenção mantê-la cativa em condições tão deploráveis e tão pouco à vossa altura, no entanto tive de me ausentar e os meus serviçais e soldados acharam que era uma prisioneira qualquer.
Agora terá o tratamento que merece. Irá para instalações apropriadas e será tratada pelas fadas desta ilha. Durante três dias tomará banhos perfumados, a sua pele será massajada com óleos florais e o seu cabelo será tratado com cremes que o tornarão macio. Será bem alimentada. Poderá tocar piano na sala de música ou outro instrumento do vosso agrado.

A Princesa ficará numa ala e o vosso unicórnio ficará noutra. É essencial que assim seja.
A partir daqui nunca mais sofrerão humilhações. Serão como que meus convidados. Depois, Passados esses dias, serão presentes perante mim. Só então direi o que pretendo.
Espero que apreciem a estadia a partir de agora!
Um vosso admirador."

- Separados? Seremos separados? - disse o unicórnio Olho Azul. - Temo pela nossa integridade.
Perante o silêncio fundo da princesa Ju, o unicórnio calou-se e esperou que a princesa e amiga saísse daquele transe.
- Vem aí uma tempestade. Pressinto-a. - disse Ju com uma voz triste. - Se nos separam, isso só quer dizer que algo se vai passar. Mas o quê?
- Vamos aguardar e esperar. - respondeu o unicórnio.
A princesa acenou que sim, tentou rasgar o papiro sem conseguir e aproximou-se da janela gradeada. Em silêncio, olhando o céu azul, pediu a todos os seres mágicos de Fantasia que a resgatassem antes que fosse tarde demais.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Indecisões

Durante uns momentos a princesa Ju ficou estática a olhar para o brasão que estava no lacre sem abrir o pergaminho. Parecia-lhe reconhecer a família brasonada. Trocou breves palavras com Olho Azul e sentou-se no colchão, que ambos aproximaram mais da janela para a princesa ver melhor.
A imagem não era nítida, mas depois de apurada observação e com a ajuda do unicórnio chegaram à conclusão que se tratava de um centauro, o que não era um bom augúrio pois representava a brutalidade, a invencibilidade, a força. Quem escrevera aquela missiva pertencia a uma família nobre ameaçadora, poderosa. A princesa já sentira a brutalidade do seu carcereiro nos primeiros tempos que ali permanecera.
Sentia receio de abrir o pergaminho. Antes de o fazer levantou-se, foi até à janela gradeada, olhou para o exterior à procura de paz e coragem. Via apenas o mar e o céu. O mar era de um azul transparente, para se tornar de um azul mais escuro devido à profundidade. Também o céu estava azul, sem uma nuvem. O sol brilhava em todo o seu esplendor.
"Há quanto tempo estamos aqui?" - perguntou-se mentalmente. "Que nos vai acontecer? Nunca mais verei Fantasia?"
- Princesa, princesa - repetiu o unicórnio Olho Azul por ela estar tão absorta nos seus pensamentos - tem de ler o que está escrito no pergaminho. Pode ser que tenhamos uma boa surpresa.
- Achas? Não creio! Viste o brasão como eu e sabes bem o que significa.
- Sei princesa Ju, mas podemos sempre ter esperança.
- Sim, eu sei. Só que algo me diz que não será assim Olho Azul.
A princesa saiu de perto da janela, sentou-se no colchão onde tinha deixado o pergaminho mirou ainda o brasão e de seguida abriu-o.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

No País dos Druídas

Anoiteceu depressa. Depois da Criança e de Minedu terem descansado foram presentes a uma sacerdotisa. Esta igualmente bela e inteligente falou-lhes um pouco da história do povo druída. Disse-lhes que os druídas eram de uma elevada estirpe, que ocupavam o lugar de juízes, doutores, sacerdotes, adivinhos, magos, médicos e até astrónomos.
Depois de ouvir estas palavras, Minedu interveio:
- Parece-me também que as mulheres têm um papel muito importante.
A sacerdotisa disse:
- Aqui todos somos iguais. Por isso as mulheres partilham com os homens os mesmos direitos. Podem mesmo divorciar-se se quiserem.
- Esta civilização assemelha-se à minha, embora não nos trajes e na beleza. As mulheres mais parecem deusas.
- E são criança.
- Têm algum tipo de escrita? Livros?
- A nossa escrita é uma escrita mágica. É uma escrita rúnica. Símbolos que são escritos em pedras. Ora esta escrita são oráculos adivinhatórios.
- Então a pedra que trago comigo é uma runa?
- Sim, Menino. Essa runa trouxe-te até nós. Precisas de saber algo?
- Sim. Tenho de encontrar a princesa Ju e o unicórnio Olho Azul que foram raptados há muito tempo.
- Aqui é o local ideal para saberes onde encontrá-los. Irão ser recebidos por outra sacerdotisa com mais idade e experiência.
- Quando? - quis saber a Criança.
- Só depois de amanhã, pois a sacerdotisa foi chamada para ler um oráculo.
- Que pena! - disse Minedu.
- Entretanto aproveitem para conhecer um pouco os druídas, convivam com as nossas crianças.
Apesar da ansiedade, a Criança e Minedu conheceram alguns druídas e o seu país.

sábado, 16 de abril de 2011

A caminho de novo

Enquanto isso, a Criança seguia o caminho que o seu amuleto indicava. Levava consigo a runa que encontrara na casa do casal de elfos. Tinham sido muito pacientes e amáveis.
Agora voava sem bem saber onde iria parar. Afastava-se das zonas habitadas de Fantasia que tão bem conhecia. Entrava num outro mundo, parecia-lhe. Havia florestas densas, rios largos e perigosos, andando mais e mais, ele e o Dragão de Penas foram dar a um pântano. Ainda bem que o dragão voava senão teriam sido engolidos pelas terras pantanosas.
Dias e noites passaram sem que a luz do amuleto se apagasse. Continuaram viagem. Ao chegarem a uma zona algo montanhosa e verdejante viram uma pequena povoação. O amuleto começou a piscar e a Criança pediu ao Dragão de Penas que descesse assim que encontrasse um largo ou uma clareira.
Assim que puseram os pés em terra firme, surgiram várias mulheres guerreiras. Uma delas, mais alta, tomou a posição dianteira.
A Criança sentindo medo. subiu para o dorso do dragão, mas antes que levantassem voo a bela guerreira disse:
- Sejam bem-vindos ao País dos Druídas. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde chegariam.
«Como é que elas sabiam?» questionou-se a Criança, pois nem ela sabia onde o amuleto a conduziria.
- Em breve conversaremos sobre o que vos traz aqui. Agora vão alimentar-se e descansar.
- Obrigada. - agradeceu a Criança.- Estamos de facto cansados.
- Levem-nos e tratem bem deles. - Disse a que parecia a líder.

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Foto de F Nando